segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Penpal: Caixas

Está série me proporcionou uma ótima experiência, me fez se aprofundar na narrativa, e vivenciar a história ao ponto de perder o fôlego lendo, e então, decidi compartilhar ela com vocês aqui no blog. Esta história foi postada originalmente no Reddit por um usuário chamado "1000Vultures", porém a li em outro blog ao qual admiro bastante, o Creepypasta Brasil, e a tradução das histórias foram realizados pelos administradores de tal blog. Dou crédito especial a Divina Lopes, ao qual traduziu praticamente toda a série. Esta é a terceira de seis histórias escritas pelo mesmo autor, se você ainda não leu a primeira clique aqui, se não leu a segunda clique aqui, desejo uma ótima leitura.

[...]  

 Para aqueles que já leram minhas outras histórias e perguntaram se havia mais e receberam respostas enigmáticas de mim, quero me desculpar por ter sido desonesto. Falei várias vezes nos comentários que nada realmente aconteceu depois de "Passos", mas isso não é a verdade. Os eventos a seguir não estavam submersos no fundo da minha mente; sempre soube que eles estavam ali. Não tinha percebido até que escrevi "Balões" e conversei com minha mãe sobre os seguintes eventos o quão interligado estava com o resto, mas originalmente não tinha planejado compartilhar isso. Meu desejo de reter esta memória foi devido ao fato de que eu não tive bom senso na época; também, queria consentimento de outra pessoa para contá-la, para não deturpar o acontecimento. Não esperava a repercussão que minhas outras histórias tiveram, então não achei que seria pressionado por mais detalhes e teria ficado feliz em manter isso só para mim até o fim da minha vida. Não consegui contatar a outra parte, mas me sentiria um hipócrita de deter esta história daqueles que querem mais informações, agora que falei com minha mãe e outra conexão foi estabelecida. O que se segue são lembranças o mais precisas que pude ter. Peço desculpa pelo comprimento.

                Antes de entrar para a primeira série do primário, passei o verão inteiro aprendendo a escalar árvores. Havia este pinheiro em particular na frente da minha casa que parecia ter sido feito sob medida para mim. Tinha galhos que eram tão baixos que conseguia me agarrar sem pegar impulso, e nos primeiros dias depois que aprendi a subir, ficava sentado nos galhos mais baixos, balançando as pernas. A árvore ficava do lado de fora da cerca da parte de trás da nossa casa e podia ser facilmente vista da janela da cozinha que se localizava logo acima da pia. Minha mãe e eu desenvolvemos uma rotina na qual eu iria brincar na árvore e ela lavar a louça, pois assim ela podia me observar facilmente enquanto fazia outras coisas.

Enquanto o verão ia passando, minhas habilidades cresciam e não demorou muito para estar escalando bem alto. Enquanto a árvore crescia, seus galhos não só começaram a ficar mais finos como também mais espaçados. Então cheguei a um ponto que não conseguia subir mais alto, e assim a brincadeira de via ser mudada; comecei a me concentrar na velocidade, e no final eu conseguia chegar no galho mais alto em 25 segundos.

Em uma tarde, fiquei muito confiante e tentei pular de um galho para outro antes de ter me segurado firmemente no de cima. Caí de aproximadamente 6 metros e quebrei feio meu braço em dois lugares. Minha mãe corria em minha direção gritando e me lembro de ouvi-la como se estivesse debaixo d'água - não me lembro o que ela disse, mas lembro de ficar surpreso de quão branco meus ossos eram.

Eu ia começar o ano escolar com um gesso e não tinha nenhum amigo para assiná-lo. Minha mãe deve ter se sentido tão mal por causa disso que um dia antes do começo das aulas trouxe um gatinho para casa. Era apenas um bebezinho, listrado em bege e branco. No momento em que ela colocou ele no chão, o pequenino se rastejou para dentro de uma caixa vazia de refrigerante. Chamei-o de Caixas. 

Caixas só ia para fora de casa quando fugia. Minha mãe cortou-o as unhas para que não destruísse os móveis, então em resultado a isso, dávamos nosso melhor para mantê-lo dentro de casa. Ele saía de vez em quando, e costumávamos achá-lo no jardim perseguindo um inseto ou um lagarto, mesmo que conseguissem pegar raramente por não ter garras. Ele era muito evasivo, mas sempre conseguíamos pegá-lo e levá-lo para dentro de casa. Ele se esforçava para conseguir olhar por cima do meu ombro - Eu dizia à minha mãe que era por que ele estava planejando uma estratégia para a próxima vez. Uma vez dentro, dávamos um pouco de atum e ele aprendeu que o som do abridor de latas era um sinal; ele vinha correndo sempre que o ouvia.

Isso veio a calhar mais tarde, pois quando estávamos quase nos mudando daquela casa, Caixas saia de casa com muito mais frequência e corria para debaixo do forro onde nenhum de nós queria segui-lo, porque era apertado e acabaríamos, provavelmente, rastejando em cima de insetos ou ratos nojentos. Engenhosamente, minha mãe pensou em ligar o abridor de latas a um cabo de extensão para trás e executá-lo em frente ao buraco que Caixas entrava, Eventualmente ele emergia com seus miados altos, ansioso por conta do barulho e depois aterrorizado com o truque cruel que tinha caído - um abridor de latas sem atum não fazia sentido para Caixas.

A última vez que ele fugiu para debaixo da casa foi em nosso último dia lá. Minha mãe tinha colocado a casa à venda e tínhamos começado a empacotar nossas coisas. Não tínhamos muito, mas conseguimos enrolar a arrumação por um tempo, mesmo que já tivesse empacotado todas minhas roupas a pedido de minha mãe – ela podia ver que eu estava chateado sobre me mudar e queria que essa transição fosse, para mim, o mais suave o possível e acho que ela pensou que ter minhas roupas em uma caixa reforçaria a ideia que estávamos nos mudando, mas as coisas não mudariam tanto. Quando Caixas saiu de casa enquanto estávamos já colocando as coisas no caminhão de mudança, minha mãe xingou em voz alta pois já havia empacotado o abridor de lata e não tinha certeza onde tinha colocado. Fingi que iria procurar para não ter que entrar de baixo de casa, e minha mãe (provavelmente percebendo meu truque) rastejou de baixo da casa. Ela saiu com Caixas muito rapidamente e parecia muito nervosa, então fiquei feliz por não ter sido eu lá em baixo.
Mamãe fez algumas ligações enquanto eu arrumava mais algumas coisas, então ela entrou em meu quarto e disse que tinha falado com o corretor de imóveis e nós começaríamos a mudança naquele dia. Ela falou como se fossem notícias excelentes, mas achei que tínhamos ainda um pouco de tempo na casa – originalmente ela tinha dito que não nos mudaríamos até o final da próxima semana e era apenas terça-feira. E ainda mais, não tínhamos terminado de empacotar completamente as coisas, mas ela disse algo tipo “é mais fácil substituir as coisas do que empacotá-las e transportá-las por toda a cidade”. Nem consegui pegar o resto das caixas com minhas roupas. Perguntei se eu poderia ligar para Josh e dizer adeus, mas ela disse que eu podia ligar para ele da nova casa. Saímos junto com o caminhão.

Consegui manter contato com Josh durante anos; o que era surpreendente, sendo que não frequentávamos mais a mesma escola. Nossos pais não eram amigos próximos, mas sabiam que nós éramos e às vezes nos levavam um para casa do outro para passar alguns dias – quase todos os finais de semana. Em um Natal, nossos pais conseguiram dinheiro e compraram uns walkie-talkies para nós que dizia funcionar mesmo de toda a distância entre nossas casas; eles também tinham ótimas baterias que duravam dias mesmo enquanto ligados, mas sem uso. Só de vez em quando eles funcionavam bem o suficiente para termos nossa conversa de tão longe, mas quando dormíamos um na casa do outro, usávamos pela casa falando em códigos como víamos nos filmes e funcionavam perfeitamente para aquilo. Graças aos nossos pais, continuávamos amigos quando fizemos 10 anos.

Em um final de semana eu estava pousando na casa de Josh e minha mãe me ligou para dar boa noite; ela continuava a me cuidar mesmo quando eu estava sobre os cuidados dos pais de Josh, e eu estava tão acostumado com isso que não ligava, mesmo que Josh ligava. Ela parecia chateada.

Caixas tinha sumido.

Isso deve ter sido em um sábado a noite, pois eu tinha pousado na noite anterior na casa de Josh e iria para casa só no outro dia, pois tínhamos escola na segunda-feira. Caixas tinha sumido na tarde de sexta- Deduzi que ela não tinha visto ele desde que voltou para casa depois de me largar. Ela deve ter decidido me contar que ele tinha sumido antes que eu voltasse para casa porque, se ele não voltasse antes de mim eu ficaria devastado, não só por causa de seu desaparecimento, mas por ela ter escondido aquilo de mim. Ela disse para que não me preocupasse. “Ele irá voltar, ele sempre volta!”

Mas Caixas não voltou.

Três semanas depois fui de novo para a casa de Josh. Ainda estava um pouco chateado por Caixas, mas mamãe tinha dito que havia casos que animais de estimação sumiam e só depois de semanas, até meses, voltavam sozinhos para casa. Disse também que eles sabiam onde ficavam suas casas e sempre tentavam voltas. Eu estava explicando isso para Josh quando um pensamento me atingiu tão forte que interrompi minha própria frase para falá-lo em voz alta. “Mas e se Caixas se confundiu de casa?”

Josh ficou confuso. “Como assim? Ele mora com você, ele sabem onde sua casa fica.”

“Mas ele cresceu em outro lugar, Josh. Ele foi criado na minha antiga casa a alguns quarteirões daqui. Talvez ele ainda pense naquela casa como lar, assim como eu.”

“Ahhh entendi. Isso seria demais! Nós falamos com meu pai amanhã e ele nos levará lá para que procuremos.”

“Não cara, ele não vai. Minha mãe disse que nunca poderíamos voltar para aquela casa porque os novos moradores não queriam ser perturbados. Ela disse que disse para sua mãe e seu pai a mesma coisa.”

Josh insistiu “Ok, então vamos amanhã lá explorar e vamos até sua antiga casa e –“

“Não! Se seus pais descobrirem minha mãe também vai! Temos que ir sozinhos... Temos que ir hoje a noite...”

Não precisei muito para convencer Josh, pois geralmente eu era o que surgia com ideias desse tipo. Mas nunca tínhamos fugido da casa dele antes. No final foi bem fácil. A janela do quarto dele abria para o jardim e tinha um portão de madeira que não estava trancado. Depois desses dois pequenos desafios, nós saímos pela noite com lanternas e os walkie-talkies.

Havia dois jeitos de ir da casa do Josh até a minha antiga casa. Podíamos ir pela rua e fazer várias voltas ou ir pelo bosque, que levaria metade do tempo. Levaria mais ou menos 2 horas pela rua, mas sugeri irmos por ali mesmo; disse que não queria ficar perdido. Josh recusou e disse que algum vizinho poderia reconhecê-lo e contaria para seu pai. Ele ameaçou que se não fossemos pelo atalho voltaria para casa, então aceitei, pois não queria ir sozinho.

Josh não sabia da história por trás da última vez que andei por esse bosque durante a noite.

O bosque era muito menos assustador com um amigo e uma lanterna, e até que estávamos nos divertindo. Eu não tinha certeza onde exatamente estávamos mas Josh parecia confiante o suficiente para aumentar minha moral. Passamos por uma parte cheia de árvores emaranhadas quando meu walkie-talkie ficou preso em um galho. Josh estava com a lanterna então eu fiquei tentando me livrar do galho quando ouvi Josh falar.

"Ei cara, quer dar um mergulho?"

Olhei para onde ele apontava a luz da lanterna mas fechei o meus olhos quase que instantaneamente, pois naquele momento eu sabia onde estávamos.  Ele estava apontado para a boia de piscina. Era o lugar na floresta onde eu tinha acordado a muitos anos atrás. Senti um caroço na minha garganta junto com o começo de lágrimas enchendo meus olhos enquanto eu continuava a tentar livrar o walkie. Frustrado, puxei com força suficiente para quebrar o galho e andei até Josh que tinha se deitado na boia como se estivesse tomando banho de sol. Em quanto andava em direção dele, tropecei e quase caí dentro de um grande buraco que estava no meio dessa pequena clareira, mas consegui me equilibrar e fiquei bem na beira. Era funda. Fiquei surpreso pelo tamanho do buraco, mas mais surpreso ainda de não me lembrar dela. Percebi que aquilo não devia estar ali na noite do meu ocorrido, pois estava bem no lugar aonde eu tinha acordado. Tirei isso da minha cabeça enquanto me virava para Josh.

"Para de brincadeiras, cara! Você viu que eu estava preso ali e ficou só deitado aí, zoando nessa boia!" Dei um chute na boia para mostrar o quão sério estava sobre aquilo. Um guincho saiu da boia.

O sorriso de Josh sumiu de seu rosto. Agora ele parecia aterrorizado e estava tentando sair da boia, mas não conseguia se levantar de uma maneira rápida por causa da maneira que estava deitado antes. Cada vez que caia deitado de novo, o guincho se intensificava. Queria ajudá-lo mas não conseguia chegar mais perto - minhas pernas não ajudavam; odiava aquele bosque. Peguei a lanterna que ele tinha jogado para longe e iluminei a boia sem sabem o que esperar. Finalmente, Josh consegui sair da boia e correu até mim  e olhou para onde eu mirava a luz. De repente lá estava. Era um rato. Comecei a rir nervosamente e observamos o rato correr pelo bosque enquanto guinchava. Josh me deu um soco de leve no braço, seu sorriso voltando levemente ao rosto e continuamos a andar.

Aceleramos nossos passos e saímos do bosque mais rápido do que pensávamos, e nos encontramos no meu antigo bairro. Na última vez eu tinha contornado uma esquina à frente e tinha visto minha casa toda iluminada; todas essas memórias do que acontecera vieram à tona. Senti meu coração descompassar enquanto estávamos finalmente virando a esquina para ter uma visão completa da minha casa, lembrando quão iluminada estava na outra vez. Mas dessa vez as luzes estavam desligadas. De uma certa distancia eu conseguia ver minha antiga árvore de escalar. Quando demos uma olhada mais de perto, pude ver que o gramado estava horrível; não conseguia nem sequer adivinhar quando tinha a última vez que apararam aquele jardim. Uma das janelas de madeira estava quebrada e pendurada para baixo, se balançando para frente e para trás junto com a brisa e em um todo, a casa parecia suja. Fiquei triste em ver minha antiga casa em um estado tão decadente. Por que minha mãe se importava em não incomodar os novos donos se esses cuidavam tão mal de onde viviam? E então percebi:

Não haviam novos moradores.

A casa estava abandonada, embora parecesse simplesmente esquecida. Por que minha mãe mentiria para mim sobre nossa antiga casa ter novos moradores? Mas, achei que isso era uma coisa boa. Seria mais fácil de procurar por Caixas se não tivéssemos que nos preocupar em ser pegos pela nova família. Assim seria muito mais rápido. Josh interrompeu meus pensamentos enquanto entravamos pelo portão em direção da casa.

"Sua antiga casa é uma droga, cara!" Ele gritou no tom mais baixo que pode.

"Cala a boca, Josh! Mesmo assim continua sendo melhor que a sua casa."

"Pô, cara-"

"Ok, Ok. Acho que Caixas está de baixo da casa. Um de nós tempos que ir lá em baixo, e o outro tem que ficar na entrada caso ele saia correndo de lá."

"Tá falando sério? Sem chance que eu vou entrar lá em baixo. É seu gato, cara. Você vai."

"Olha, vamos jogar para ver que vai, a não ser que você esteja com muito medo..." Falei enquanto segurava meu punho em cima da outra mão espalmada.

"Tudo bem, mas nós mostramos no 'já', não no 'três'. É 'pedra, papel, tesoura, já!, não 'um, dois, TRÊS.'"

"Eu sei como jogar o jogo, Josh. Você é o que sempre estraga tudo. E é melhor de três."

Eu perdi.

Soltei a madeira do forro como minha mãe sempre fazia quando tinha que ir lá em baixo buscar Caixas. Ela fez isso poucas vezes por causa do truque do abridor de latas, mas quando tinha que fazer, ela odiava. Especialmente na última vez, então enquanto eu olhava para o forro escuro entendi o porquê. Antes de nos mudarmos, ela dizia que era melhor que Caixas corresse ali para baixo, ao invés de pular a cerca ou correr pela vizinhança. Tudo isso era verdade, mas ainda estava com medo de fazer aquilo. Peguei a lanterna e o walkie-talkie e comecei a me rastejar lá para dentro; um cheiro horroroso encheu meus pulmões.

Cheirava como a morte.

Liguei meu walkie. Josh, você está aí?
Quem fala é o Macho Man, câmbio.
Josh, para com isso. Tem algo errado aqui em baixo.
Como assim?
Fede. Fede como se algo tivesse morrido.
É o Caixas?
Espero que não.

Abaixei o walkie e apontei a luz para várias direções enquanto me rastejava em frente. Olhando de fora pelo buraco, você conseguia ver todo o caminho de volta com a iluminação certa, mas tinha que estar dentro para ver em volta dos blocos de suporte que mantinham a casa de pé. Eu diria que havia 40% da área não conseguia ser vista se não estivesse dentro do forro, mas acabei descobrindo que mesmo dentro só conseguia enxergar aonde a luz estava apontada; isso faria com que a patrulha fosse muito mais difícil. Enquanto me movia para frente, o cheiro piorava. Comecei a ficar com medo de que Caixas tivesse ido ali e algo ruim tivesse acontecido com ele. Iluminei por ali, mas não conseguia ver muito. Envolvi meus dedos em volta de um dos blocos de suporta para me impulsionar para frente quando sendo algo que fez minha mão recuar.

Pelos.

Meu coração afundou no peito e me preparei emocionalmente para o que iria ver a seguir. Rastejei lentamente para que eu pudesse prolongar o que sabia que estava prestes a aparecer diante de meus olhos e passei a luz da lanterna para ver o que estava do outro lado do bloco.

Cambaleei em horror para trás. "JESUS CRISTO!" gritei sem querer com a voz tremula. Era uma criatura enorme e torcida, em estado de decomposição. Sua pele tinha apodrecido no rosto, então seus dentes pareciam ser enormes. E o cheiro era insuportável.

O que foi? Você está bem? É o Caixas?

Peguei o walkie. Não, não, não é o Caixas.

Então que diabos é?

Não sei.

Pousei a luz de novo e olhei com menos medo em meus olhos. Ri.

É um guaxinim!

Bem, continue procurando. Vou entrar na casa para ver se ele está em algum lugar lá.

O que? Não. Josh, não vá lá. E se Caixas estiver aqui e correr para fora?

Ele não vai. Coloquei a madeira de volta.

Olhei para trás e vi que ele estava falando a verdade.

Por que você fez isso?

Não se preocupe, cara, você consegue tirar ela dali fácil fácil. Faz mais sentido. Se Caixas correr para fora e eu não conseguir segurá-lo ele fugiria. Se ele estiver aí em baixo, pegue-o com firmeza, volte, remova a madeira e se ele não estiver aí você sai enquanto eu olho dentro da casa!

Alguns pontos que ele falou eram bons, e duvidei que conseguiria entrar na casa de qualquer jeito.

Ok,mas seja cauteloso e não toque em nada. Tem algumas caixas no meu quarto, você pode ir lá ver se eles está  em alguma. E certifique-se de trazer seu walkie.

Entendido, parceiro.

Me liguei que estaria um breu total lá dentro; a luz tinha sido cortada sendo que ninguém estava pagando as contas. Com alguma sorte, ele conseguiria enxergar um pouco com a iluminação dos postes de luz da rua- por outro lado, não sei o que ele faria.

Pouco tempo depois ouvi passos sobre minha cabeça e senti sujeira velha caindo sobre mim.

É você, Josh?

Shhhhhh, Invasor, Invasor! Quem fala é Macho Man voltando da grande Tango Foxtrot. A águia pousou. Qual sua posição, princesa Jasmine? Câmbio.

"Babaca", pensei.

Macho Man, minha posição é no seu banheiro e estou olhando para suas revistas. Parece que você gosta de bundas de homens. Qual seu relatório sobre isso? Câmbio.

Eu podia ouvi-lo rindo mesmo sem o walkie e comecei a rir também. Ouvi os passos se distanciando um pouco - ele estava indo para meu quarto.

Cara, está muito escuro.Você tem certeza que tinham caixas com roupa aqui? Não vejo nada.

Sim, deviam haver algumas caixas na frente do armário.

Não tem nenhuma caixa aqui, deixa eu ver se talvez você colocou as caixas no armário antes de ir embora.

Comecei a pensar que talvez minha mãe tinha voltado e pego as roupas e doado-as, pois eu tinha crescido, mas me lembrava de ter deixado as caixas lá - não tive tempo nem de fechar a ultima antes de ir embora.

Enquanto esperava Josh me dizer o que tinha encontrado, chutei com minha perna para evitar que ela ficasse dormente por causa da posição que me encontrava, e acertei em algo. Olhei para trás e vi alguma coisa estranha. Era um cobertor, e em volta haviam potes. Me rastejei para mais perto. O cobertor cheirava a mofo e a maioria dos potes estavam vazios mas em um ainda havia algo que eu reconhecia.

Comida de gato.

Era um tipo diferente do que nós dávamos para Caixas, mas de repente entendi. Minha mãe montou esse lugarzinho para Caixas vir para o forro e não correr pela vizinhança. Isso fazia muito sentido e mais ainda que talvez Caixas tivesse voltado para esse lugar. "Muito legal, mãe.", pensei comigo mesmo.

Achei suas roupas.

Ah, legal. Onde estavam as caixas?

Como eu disse, não tem caixas. Suas roupas estavam no armário... Estão penduradas.

Senti um arrepio. Era impossível! Eu tinha empacotado todas minhas roupas. Mesmo que fossemos nos mudar só duas semanas depois, me lembro de achar idiota ter que tirar as roupas da caixa todo o dia para me vestir. Eu tinha empacotado, mas alguém tinha pendurado elas de volta. Mas, por quê?

Josh tinha que sair de lá.

Isso não faz sentido, Josh. Elas deviam estar em caixas. Pare de brincadeira e saia daí.

Não estou brincando, cara. Estou olhando para elas. Talvez você só ache que empacotou... Haha! Uau! Você realmente gosta de olhar para si mesmo, não é?

Que? Como assim?

Suas paredes, cada. Haha. Sua paredes estão cobertas de Polaroids suas. Tem milhares delas. Você contratou alguém para-"

Silêncio.

Chequei meu walkie para ver se tinha desligado de alguma forma. Esta ligado. Eu podia ouvir os passos mas não conseguia definir para onde Josh estava indo. Esperei Josh terminar sua frase, pensando que ele tinha desligado sem querer o walkie, mas não continuou. Agora parecia estar correndo pela casa. Eu estava pronto para chamá-lo pelo walkie quando sua voz soou no radinho.

Tem alguém na casa.

A voz dele estava apressada e travada - era perceptível que ele estava à beira das lágrimas. Eu queria responder, mas quão alto estava o walkie talkie dele? E se a outra pessoa ouvisse? Não falei nada e só esperei, escutando. Ouvia passos. Pesados, passos arrastados. E depois uma batida alta.

"Meu Dues... Josh."

Ele tinha sido encontrado; eu tinha certeza disso. Essa pessoa tinha encontrado-o e machucado-o. Comecei a chorar. Ele era meu único amigo, seguido de Caixas. E depois pensei: E se Josh dissesse para a pessoa que eu estava aqui em baixo? O que eu poderia fazer? Enquanto eu lutava para me recompor, ouvi a voz de Josh pelo walkie.

Ele tem alguma coisa, cara. E uma sacola grande. Ele acabou de jogar a sacola no chão E... meu Deus, cara... A sacola... Acho que acabou de se mexer.

Fiquei paralisado.  Queria correr para casa. Queria salvar Josh. Queria buscar ajuda. Queria tantas coisas mas eu só fiquei deitado lá, congelado. Enquanto pairava, sem conseguir me mexer, meus olhos se focaram no canto da casa que era bem de baixo do meu quarto. Movi a lanterna. Prendi minha respiração pelo o que eu vi.

Animais. Dúzias de animais. Todos mortos. Estavam em pilhas em volta de todo o perímetro do forro. Será que Caixas estava entre esses cadáveres? Era para isso que a comida de gato servia?

Ver isso fez com que meu choque acabasse, pois sabia que tinha que sair de lá e me movi até a tábua. Empurrei-a, mas esta não se mexia. Eu não conseguia movê-la pois estava emperrada para dentro e não conseguia por meus dedos em volta dela pois a borda estava para o lado de fora. "Maldição, Josh!" Sussurrei para mim mesmo. Conseguia ouvir passos ferozes acima de mim. A casa tremia. Ouvi Josh gritando e foi seguido por outro grito que não estava cheio de medo.

Enquanto empurrava, senti a tábua se mexendo, mas sabia que não era eu que estava movendo-a. Eu podia ouvir passos acima de mim e em minha frente e gritos quebrando o silêncio entre os passos. Empurrei meu corpo para trás e segurei o walkie de forma que pudesse me defender ; a madeira foi jogada para o lado e um braço entrou pelo buraco e me puxou para fora.

"Vamos, cara! Agora!"

Era Josh. Graças a Deus.

Saí aos tropeços da entrada segurando o walkie talkie e a lanterna. Nós dois pulamos a cerca, mas quando Josh o fez, deixou seu walkie cair. Ele iria pular a cerca de novo para pegar mas disse para deixar para lá. Tínhamos que sair dali. Atrás, eu podia ouvir gritos, mas não eram palavras, só sons. E nós, talvez tolamente, corremos para o bosque para chegarmos na casa de Josh mais rapidamente e fazer com que uma perseguição fosse mais difícil. Pelo caminho enquanto corríamos Josh gritava continuamente:

"Uma foto! Ele tirou uma foto minha!"

Mas eu sabia que o homem já tinha uma foto de Josh - de anos atrás, na  trincheira. Suponho que Josh ainda achava que aqueles barulhos mecânicos eram de robôs.

Conseguimos chegar na casa de Josh e entrar em seu quarto antes que seus pais acordassem. Perguntei para sobre a sacola e se realmente tinha se movido, mas ele disse que não tinha certeza. Josh continuava a pedir desculpa por ter deixado cair o walkie talkie, mas obviamente isso não era grande coisa. Não conseguimos dormir e ficamos espiando pela janela, esperando por ele. Fui para casa mais tarde naquele dia, pois já era 3h da manhã.

Contei o resumo dessa história para minha mãe alguns dias atrás. Ela desabou e ficou furiosa pelo risco em que coloquei nossas vidas. Perguntei porque ela tinha inventado todas aquelas coisas sobre perturbar os novos moradores - porque ela considerava a casa tão perigosa? Minha mãe ficou irada e histérica, mas respondeu minha pergunta. Segurou minha mão e apertou mais forte do que fisicamente achei que era possível, cravando seus olhos nos meus, falando baixo como se tivesse medo de ser ouvida:

"Porque eu nunca coloquei diabo nenhum de cobertor ou potes para Caixas de baixo da casa. Você não foi o único que encontrou..."

Fiquei tonto. Entendo bem agora. Entendo o porque dela ter parecido tão preocupada quando tirou Caixas de debaixo da casa no nosso último dia lá; ela encontrou mais do que ratos e aranhas naquele dia. Entendo porque saímos de lá duas semanas antes. Entendo porque ela tentou me impedir de voltar lá.

Ela sabia. Sabia que ele tinha feito nosso forro de casa, e não contou para mim. Fui embora sem dizer nenhuma outra palavra, sem terminar a história para ela. Mas quero terminar aqui, para você.

Cheguei em casa aquele dia e joguei minhas coisas no chão, espalhando por toda parte; eu não ligava, só queria dormir. Acordei por volta das 9 da manhã aos sons dos miados de Caixas. Meu coração deu um pulo. Finalmente, tinha voltado para casa. Fiquei um pouco enjoado com o fato que se tivesse esperado mais algum tempo, nada da noite passada teria acontecido e eu teria Caixas de volta de qualquer jeito. Mas isso não importava mais, ele estava de volta. Saí de minha cama e chamei por ele, olhando por todos os lugares esperando ver o brilho de seus olhos. O choro continuou e eu o segui. Estava vindo de debaixo da cama. Ri um pouco, pensando que tinha me rastejado debaixo de uma casa por ele e que isso era bem melhor. Seus miados estavam sendo abafados por uma camiseta, então joguei-a para o lado, sorrindo e gritei "Bem vindo de volta, Caixas!"

Seus miados estavam vindo do meu walkie talkie.



Caixas nunca voltou para casa.

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